Nossa escolha profissional está pautada na história da nossa família, não somos tão livres quanto acreditamos ser.

Escolher uma profissão, assim como, muitas de nossas escolhas, tem uma forte relação com a vivência dos nossos antepassados e respondemos, de certa forma, a um pedido inconsciente da nossa árvore genealógica. Pedido este, que chega como uma programação mesmo antes da nossa concepção, como um tipo de lista dos desejos, conscientes e inconscientes, dos nossos pais, formando um pacote expectativas para tudo que vamos fazer na vida.

Esse momento corresponde, na psicogenealogia, ao que chamamos de “Projet Sens”, que pode ser compreendido como um projeto de direcionamento que inicia nove meses antes da nossa concepção e finaliza no primeiro ano de vida.

Durante esse período, os acontecimentos que marcaram a vida de nossos pais, sejam eles pessoais, familiares ou mundiais vão influenciar no nosso jeito de ser e nas nossas escolhas. 

Para exemplificar, podemos fazer referência a famílias que vivenciaram a seca no nordeste, que passaram fome, que perderam familiares por não ter o que comer, este tipo de situação gera um sentimento particular em cada integrante da família, que será expresso de forma diferente por eles. Como resultante, os filhos podem, por exemplo, ter uma forte preocupação em cuidar da alimentação, em querer fazer as pessoas comerem mais que necessário, ou ainda, ter medo de ficar sem comida e possuir uma farta dispensa. No caso da escolha profissional, um evento deste tipo na família pode levar a escolhas da profissão de nutricionista, cozinheiro, agricultor ou ter um restaurante, enfim, alguma atividade que esteja relacionada com a alimentação.

Não só o que foi vivenciado neste período é significativo para nossas escolhas, como também, tudo que foi experimentado por nossos familiares ao longo da vida deles. Por mais que estes eventos possam parecer distantes, eles serão repassados de geração em geração, impactando na vida dos descendentes nas mais diversas formas e influenciando nas escolhas pessoais. 

Nossa escolha profissional também é pautada na nossa origem social, em como uma determinada profissão é ou não valorizada na família, considerada uma profissão respeitada e tradicional ou inovadora e pouco conhecida, permitida ou não na família, e ainda, valorizada ou desvalorizada no meio em que vivemos socialmente.

Todos estes fatores permeiam de forma consciente ou inconsciente nossas escolhas e, em muitos casos, podem nos impedir de conquistar nossos objetivos e mesmo de alcançar o sucesso profissional. 

Quando nos sentimos pressionados a escolher uma profissão tradicional da família ou realizar o sonho dos nossos pais, podemos “inconscientemente” criar alguns bloqueios que podem ser desde fracassar em uma prova até a conquista do nosso espaço profissional, a obrigação de ser leal ao sonho familiar leva a incerteza e ao medo de não corresponder com as expectativas familiares e, por vezes, é mais fácil fracassar.

Em outros casos, a nossa origem social também pode impedir de ter prazer profissionalmente ou atingir o sucesso e não se sentir merecedor, não poder usufruir e acabar por perder tudo, situações que na psicogenealogia podem ser compreendidas como neurose de classe, que de forma inconsciente mantem a fidelidade às origens familiares. 

Assim, a escolha de uma profissão pode ser uma forma de equilibrar as necessidades da nossa árvore genealógica e neste caso, podemos falar de escolha vocacional, que é a nossa vocação, o nosso chamado. 

Para ter sucesso em uma profissão, a paixão pela atividade, o amor pela profissão é essencial.

Por Monica da Silva Justino Membro da Association Internationale de Psychogénéalogie – AIP, França.

Este post tem um comentário

  1. Denise

    Com todo o respeito por um familiar meu, muito próximo a mim, acredito que ele sofreu, a vida inteira, dessa tal de “neurose de classe”, mas eu o compreendo perfeitamente, porque de onde ele veio e a profissão que a vida deu de presente a ele, era muita coisa, sem falar que ele era o mais velho e os outros irmãos não quiseram ou não tiveram coragem para trilhar o mesmo caminho. É muito difícil sair de um padrão familiar.

Deixe um comentário